CARTA COMPROMISSO

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CARTA COMPROMISSO DO 20º CURSO DE VERÃO NA TERRA O SOL 

FORTALEZA – CEARÁ

O 20º Curso de Verão na Terra do Sol aconteceu, por via remota, no período de 7 a 16 de julho de 2021, com a temática “Resistências e Luta Permanente: nossa Missão Profética” tendo, como inspiração bíblica, o versículo do Sermão do Monte: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça (Mt 5,6). Essa temática interpelou profundamente o nosso Mutirão, nestes tempos difíceis que marcam o mundo, no contexto de crise e de pandemia atingindo, particularmente, o Brasil, em meio a uma dupla pandemia: a do bolsonarismo, a acarretar um retrocesso civilizatório e a do coronavírus que agrava a crise brasileira.

 O 20º Curso de Verão foi dedicado, in memoriam, à Pastora Elisabeth Cristina de Oliveira, da Igreja Metodista Central de Fortaleza que, durante muitos anos, integrou o nosso Mutirão, iluminando-nos com sua palavra e sua presença carinhosa, carismática e profética, em uma simbiose de força e ternura. 

  Ao longo de nove dias de intenso trabalho, construímos, coletivamente, uma programação que adentrou nos desafios propostos pela temática, de diferentes formas e com distintas estratégias, procurando sempre utilizar o espaço virtual, de forma criativa, em resposta às exigências deste nosso tempo.

As Místicas, com especial destaque para a da Abertura e a do Encerramento, encarnaram, com beleza e profecia, a espiritualidade, fazendo-nos sentir e viver as bem-aventuranças, por meio de performances, de cânticos e de um forte simbolismo, constituindo momentos de oração, a energizar o Mutirão.

 A Análise de Conjuntura trouxe a reflexão sobre o Capitalismo Contemporâneo e o Neoliberalismo, como perspectiva que organiza a economia e materializa-se em Políticas de Estado, produzindo um projeto excludente de sociedade, centrado no mercado, a submeter e comprometer a vida dos seres humanos. Nesse sentido, foi configurado o Neoliberalismo no cenário brasileiro, com foco no “Brasil do Presente”, tempo histórico decorrente da pesada arquitetura de desmontes do Golpe de 2016. De modo especial, a reflexão crítica fez o desvendamento do bolsonarismo, como fenômeno sócio-político de dominância das direitas, denunciando as tragédias que se difundem na vida do país, resultante da perigosa junção com a pandemia: genocídio de uma parte da população e agravamento da questão social, cuja face mais dura e cruel é a fome. Em meio a esse trágico cenário, destacou-se a força da luta e das resistências que emergem de diferentes espaços, mostrando que existem “luzes no túnel”, como sinais de esperança.

A manhã de sábado iluminou o Mutirão com a Mesa de Partilha de Experiências, denominada “Lutar é (re)existir: Narrativas e Desafios”, reunindo seis mulheres militantes em diferentes frentes, com bandeiras específicas que se cruzam e se entrecruzam na força dos Movimentos Sociais: Luta de Mulheres; Economia Popular Solidária; Luta de Negras e Negros; Pastoral dos Migrantes; Direitos Humanos; Ecologia Integral.  Assim, foi possível conectar potentes lutas de resistência, sinais de esperança que estão em curso, em distintos espaços, encarnando a interpelação de Agostinho Neto: “Lutar para nós é um destino, uma ponte entre a descrença e o mundo novo”.

A inspiração bíblica foi trabalhada na análise “Seguindo Jesus: o Amor pela Justiça e pela Vida”, conclamando que a Justiça do Evangelho, centrada no amor, excede a justiça humana, centrada na lei. Desse modo, no seguimento ao Nazareno, a nossa justiça, se faz nesse mundo, excedendo em Amor, concebido como amor revolucionário, revestindo-se de ação sócio-política de permanente transformação. 

A Mesa “Igrejas Samaritanas e Proféticas: encarnações da fome e sede de Justiça” ampliou a análise teológica, com implicações políticas no contexto do mundo em que vivemos. Partiu-se da reflexão sobre a prática de Jesus Samaritano e Profético, como referência maior, a comunicar-nos sua proposta do Reino de Deus, a serviço da vida. O Nazareno aproxima-se dos excluídos, dos pobres e come e bebe com pecadores; dignifica a samaritana, cura enfermos e alimenta o povo faminto… No seguimento de sua vida, a Igreja Samaritana é a Igreja que se deixa converter pelo pobre que se faz sacramento de salvação. E, na crise que atravessamos, perpassada de fundamentalismos religiosos, o espírito da profecia confronta com esses fundamentalismos em suas posições sociais, políticas, religiosas e econômicas, assim como o Nazareno, Judeu, confrontou determinado judaísmo de seu tempo. O espírito samaritano e profético é o espírito de Jesus, a ser encarnado por nós, como corpo e comunidade, a fim de continuarmos a missão do Nazareno. 

Na programação do Mutirão, nesta edição por via remota, ganham destaque especial as “Conversas de Calçada”, como uma atividade a envolver diretamente a participação dos cursistas, orientada por uma equipe de trabalho, composta por um/a coordenador/a, um/a sistematizador/a e um/a artista, tendo, como inspiração, patronos e o patronesses na condição de figuras que se destacam no campo artístico vivenciado em cada grupo. Assim, em sua tessitura metodológica, os grupos de “Conversas de Calçada” constituem um espaço participativo, no âmbito de uma dinâmica reflexiva e artística, com livre expressão de cada um dos coletivos.  Nesse sentido, foram formados oito grupos de “Conversas de Calçada” que, em três dias, vivenciaram as temáticas desenvolvidas no Mutirão, mediante debates e expressões artísticas, cabendo destacar: Dança Circular em Cadeira; Teatro de Bonecos, com materiais recicláveis; Música; Arte Collage; Cinema de Bolso; Poesia; Contação de Histórias. Assim, em uma estratégia criativa e inovadora, as “Conversas de Calçada” permitiram viabilizar a metodologia estruturante do Curso de Verão, fundada no exercício integrado e crítico da razão e da arte.

Nós, que fazemos o Mutirão, no seguimento de Jesus, como Igreja Samaritana e Profética, a encarnar a Justiça que excede no Amor Revolucionário

Comprometemo-nos: 

Em enfrentar qualquer forma de hipocrisia, assumindo radicalmente o discipulado de Jesus, mantendo viva a chama da profecia que convoca as comunidades e os grupos para ações concretas de cuidado, de caridade, na afirmação de direitos, com incidência pública.

Em desenvolver trabalhos de base, na missão de ser “fermento, sal e luz”, assumindo as lutas em prol da justiça social, articulando a fé e a política, contribuindo para a formação da consciência crítica da população, incentivando a sua participação nas decisões governamentais, que se revertem em distribuição de renda.

Em retornar para as bases, nos pondo de pé com os corpos que têm fome e sede de justiça, caminhando junto com eles, colocando-nos a serviço dos/as excluídos/excluídas no lugar onde atuamos.

Em dialogar com as diferentes tradições religiosas, anunciando e denunciando as injustiças sociais, para que possamos ter firmeza no que Jesus nos propõe.

Em respeitar as diferenças, abrindo-nos para viver o espírito ecumênico e o diálogo inter-religiosos, sempre na perspectiva de exceder no amor, para além das estruturas religiosas instituídas por nós.

Em assumir o cuidado da Casa Comum (Gaia), nossa Mãe Terra, por meio de práticas de preservação ambiental nas comunidades, incentivando, ao mesmo tempo, os grupos que labutam no campo a produzir alimentos saudáveis, promovendo, assim, a agroecologia na perspectiva da soberania alimentar. 

Em preservar e cuidar da vida de forma integral: seres humanos, animais, plantas, recursos naturais, ar, água e terra.

Em assumir, de forma efetiva, o confronto com esse sistema de morte vigente na nossa sociedade, lutando por terra, trabalho, pão e arte.

Em vivenciar o compromisso com as comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, buscando aprender com suas experiências, valorizando as práticas locais das Comunidades.

Em reconhecer as pessoas em situação de rua como sujeitos sociais, com garantia de direitos e acesso às políticas públicas.

Em denunciar as injustiças que penalizam os que habitam às margens da sociedade em comunidades periféricas, nas cidades e no campo.

Em valorizar a diversidade entre nós, enfrentando o sistema capitalista, racista e patriarcal.

Em ser Missionários/as e Profetas de uma “Igreja em saída”.

Em estar mais próximo das pessoas, exercitando a ternura e derrubando os muros dos medos, da insegurança, da intolerância e do silêncio.

Esta edição do curso de verão na terra do sol nos inspira e anima a sermos multiplicadores, resistente e persistente construtores de caminhos de bem-aventuranças. Nesta perspectiva do caminhar para construção de uma sociedade mais justa com participação dos mais vulneráveis, consideramos como estratégias:

Ampliar a Leitura Bíblica Popular nas Comunidades, a fim de resgatar a reflexão crítica através de círculos bíblicos;

Fortalecer as iniciativas de economia solidária nas comunidades e grupos onde atuamos, como: farmácia viva, quintais produtivos, fundo rotativo, troca de saberes, feiras de produtos da agricultura familiar entre outras;

Trabalhar para que o Centro de Formação Terra do Sol possa oferecer mais momentos formativos nas comunidades, através de oficinas de arte, estudos bíblicos, análise de conjuntura, etc.

Queremos concluir agradecendo a todo mundo que faz parte deste nosso Mutirão, e agradecer a Deus Pai e Mãe, com as mesmas palavras de Jesus: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra porque ocultastes estas coisas aos sábios e doutores e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25).

Que a nossa vida seja uma contínua resposta à Missão profética para a construção do Reino do Pai, para que sejamos, desde já, uma única família, no amor e na igualdade.

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